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O Caso Kesha: a busca de uma mulher por sua liberdade

Talvez você tenha se deparado recentemente com os debates nas redes sociais sobre o caso de assédio sexual e pedido de quebra de contrato da cantora Kesha contra o seu produtor Dr. Luke. O último encontro em júri, no dia 19 de fevereiro, trouxe indignação e mais voz para o caso. Com a hashtag #FreeKesha! (“liberte Kesha!”), muitas especulações tem aparecido em diversos sites e redes sociais, em debates de fãs, famosos e curiosos e até mesmo com uma petição que já uniu 191 mil assinaturas.

Pra você que se perdeu nas notícias ou não sabe sobre o ocorrido, que tal começarmos pontuando alguns fatos para entendermos melhor o que realmente significa essa ação da cantora?

Agora que você já conhece um pouco do que está em debate, vamos para a decisão do juiz Mark Geragos sobre a quebra do contrato de exclusividade.

Kesha entrou com uma liminar para que a exclusividade com Dr. Luke fosse quebrada e ela pudesse continuar na Sony Music, mas com outros produtores. Dr. Luke alegou ter investido mais de 60 milhões de dólares (em torno de 240 milhões de reais) na carreira da cantora, e que o pedido de quebra de contrato era infundado. No dia 22 de fevereiro, ele enfim quebrou o silêncio sobre o caso, defendendo sua inocência em sua conta no Twitter:

“Eu não abusei sexualmente da Kesha e eu nunca fiz sexo com ela. Kesha e eu éramos amigos por vários anos e ela era como minha irmã mais nova”

A foto da cantora chorando no fundo do tribunal, após a ação ter sido negada, foi espalhada por toda a internet, comovendo não só os fãs, mas feministas que acompanham o caso. Diversos famosos deram seu apoio à cantora, dentre eles: Kelly Clarkson, Ariana Grande, Iggy Azalea, Lady Gaga, Taylor Swift, Lorde, Demi Lovato, Troye Sivan.

Separamos alguns desses apoios que foram feito por Twitter e Facebook – vale lembrar também que Taylor Swift doou 250 mil dólares (em torno de 1 milhão de reais) para ajudar a pagar as custas do processo judicial.

Pós-onda de solidariedade que recebeu, a cantora postou no seu Instagram pessoal agradecimentos:

“Eu estou sem palavras para agradecer. ‘Obrigada’ não é suficiente, mas é tudo que eu tenho. Um milhão de vezes e para sempre obrigada. O apoio que eu recebi deixou meu rosto inchado com tantas lágrimas. Eu amo tanto vocês ♥ Um comunicado muito grande para esse formato está vindo...”

Qual a importancia em nos atentarmos a esses acontecimentos? O que podemos refletir – e ajudar – a partir de todas essas informações? Conversamos diversas vezes na Minha Beleza é Minha sobre a dificuldade e humilhação que uma mulher tem que enfrentar quando é abusada sexualmente. Uma delas é a necessidade de fazer o exame de corpo de delito, ou seja, é necessário que logo após ter sido violentada, a vítima ainda corra para provar o abuso. Porém, é mais do que provado que a maioria das mulheres não denunciam a violência que sofreram – seja por medo, por ameaças, por vergonha de exposição ou até por estarem a beira de um ataque de pânico. O emocional pesa demais nesses momentos.

Uma das dificuldades do caso Kesha é provar os abusos psicológicos e sexuais que a cantora teve desde os 18 anos. É claro que a injustiça por ter sua criatividade podada e ter que produzir músicas que vendam e mantenham sua imagem na mídia também são motivos para desgastar o psicológico da cantora.

Mas podemos tirar uma conclusão muito mais profunda: Kesha, uma mulher rica, em teoria dona de si mesma, que tem privilégios, visibilidade na mídia e apoio de muitas pessoas, ainda sim não consegue se livrar de regras universais que aprisonam mulheres. Mesmo com o apoio massivo de fãs e a pressão de celebridades de Hollywood para que fosse levado em conta a dignidade humana da cantora, contratos com gravadoras e dinheiro pesam toneladas no “mundo dos homens”.

Quando vemos que a indústria norte-americana também não protege uma mulher famosa, o que pensar das mulheres sem visibilidade na mídia, as milharesde mulheres do nosso país que vivem sem direito a sua liberdade e sem apoio de muitos para combater o abuso moral e sexual?

Quando esse texto foi escrito, uma hashtag contra o feminismo estava em primeiro lugar nos tópicos mais falados do Twitter. Entrar nela só causava uma raiva e indiganação absurdas, porque o ódio contra uma mulher forte e independente é irracional a tal ponto que não parece real. Existem pessoas que realmente acham que a falta de sexo é o motivo para mulheres serem feministas?

Quando mulheres dizem não precisar do feminismo, nos perguntamos se elas entendem o que é o feminismo. Em que sociedade foram criadas? O que disseram pra elas sobre feministas?

As feministas são como os comunistas na década de 50 e 60 no nosso país. São o que as bruxas eram na idade média. Ninguém entende o que é, só sabem que é errado e que devem estar contra. A ignorância da população abre oportunidades para que nós presenciemos o que acontece com a cantora Kesha: uma mulher privilegiada que busca sua liberdade. Até ela não é livre.

Por fim, o que podemos fazer?

A petição ainda existe, você pode acessá-la por esse link. O site em inglês explica em poucas palavras sua causa e importância e ao fim dele você pode assinar a petição. Eles – e nós – incentivam também que você expalhe a petição, via Twitter e Facebook, para que a sociedade contribuia para essa questão não ser mais uma vez silênciada. E de resto, vale a reflexão e abertura para novas oportunidades: existem diversas mulheres Brasil a fora que passam os mesmo problemas que Kesha, mas ninguém da ouvido a elas.

Não deixe silenciarem o feminismo, não deixe que ensinem o movimento de modo errado. Lutar é sempre preciso.

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