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#AssistaMulheres 01: Sangue, suor... E Feminismo!

Nessa quinta-feira damos o pontapé inicial para a primeira coluna da Minha Beleza é Minha, assinada pela colaboradora Fernanda Labate!

#AssistaMulheres chega com o objetivo de trazer para discussão filmes e seriados com protagonistas mulheres, como sugestão para você passar seu tempo livre com o melhor do Girl Power!

Começamos hoje com: How to Get Away with Murder!

À primeira vista, quando se lê uma sinopse, a impressão que fica é a de que How To Get Away With Murder não passa de uma simplificação de uma série qualquer sobre crimes e direito, uma versão menos complexa de Law & Order modificada para cativar um público mais jovem. Porém, assistindo à série, se descobre que o buraco é mais em baixo.

Cada vez mais.

Além da sucessão frenética de acontecimentos que dá à série um ritmo de tirar o fôlego e vicia o telespectador logo no primeiro episódio, a trama produzida e roteirizada pela americana Shonda Rhimes traz à tona não só questões importantes que não entram na pauta da maior parte das séries, como dá espaço para a diversidade.

Em primeiro lugar, Viola Davis – americana negra que passou boa parte da vida na pobreza – encarna a protagonista, Annalise Keating, uma advogada bem sucedida, professora de direito adepta à técnicas peculiares de dar aulas e que trava incontáveis batalhas internas. Uma delas (que é também o ponto de partida para toda a trama) é a relação problemática que tem com seu marido.

De forma resumida e sem entrar em spoilers, Annalise é casada com um psiquiatra branco e, há muito, o casal sofre com o desgaste da relação, que ocasiona traições de ambas as partes. Ela, por sua vez, tem sua sexualidade e todo o estigma carregado por mulheres negras (hipersexualização, a ideia histórica de que existem para servir, de que têm “valor menor” que mulheres brancas, etc) incessantemente revirados. Mesmo assim, segue firme e forte se sacrificando por seus aprendizes.

Estes, por sua vez, são cinco, e a diversidade expressa na série não para em Viola Davis. O grupo de alunos protegidos e aprendizes de Annelise é composto por Connor, um gay assumido, Michaela, uma garota negra com questões mal resolvidas no âmbito sexual, Laurel, uma garota latina, Wes, um garoto haitiano e órfão, e Asher, um “filho de papai” de passado sombrio que envolve omissão diante de um crime contra uma mulher. O grupo é o que mais se destaca durante as aulas de Annalise, portanto são chamados para “agir como gente grande” no escritório da advogada.

O mais importante da história – que já está em sua segunda temporada, recebeu seis prêmios e foi indicada a outros 16 – por sua vez, pode não ser a trama instigante, sangrenta e misteriosa que deixa o espectador babando. A série contraria outras produções que falam de feminismo de forma velada e traz a discussão à tona com todas as letras; fala em independência e empoderamento feminino quando explora a liberdade sexual, a eventual bissexualidade e questões relacionadas ao aborto, tenta trazer termos próprios do feminismo (em pequenas doses e implantados em situações que permitem clara compreensão) à cultura pop (tal como o mansplaining* e o gaslighting**), se esforça para que o espectador entenda tópicos tais como a reação do oprimido (situações que se acumulam na vida de alguém oprimido e faz com que a pessoa tome atitudes x ou y) e traumas decorrentes de abuso sexual, e flerta com temas considerados “tabu” (como o orgasmo feminino). O tempo todo, personagens femininas, negras, japonesas, mestiças, adotadas e órfãs lutam contra o preconceito com o qual a sociedade lhes recebe.

Recentemente, Shonda Rhimes (também autora de Scandal, outra série apontada como lar de mulheres fortes) foi a primeira mulher a vencer o prêmio Norman Lear (do Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos) e, em seu discurso, fez questão de pontuar: "Vou ser totalmente honesta com vocês: eu mereço isto completamente. […] Contra todas as chances, eu tenho, corajosamente, sido pioneira na arte de escrever sobre pessoas de cor como se fossem seres humanos. [...] Mulheres são espertas e fortes. Não são brinquedos sexuais ou donzelas em perigos. Pessoas de cor não são audaciosas ou perigosas ou sábias. E, acreditem em mim, na vida real, pessoas de cor não são companheiras de ninguém". You go, Shonda!

* mansplaining - termo em inglês para descrever homem que sempre tem que corrigir/ ensinar o certo à mulher.

** gaslighting – termo em inglês para forma de abuso emocional onde informações são distorcidas para fazer a vítima duvidar da própria memória e sanidade.

Assista ao trailer legendado:

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