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Mulheres no cinema: aqui e em Hollywood

Em 13 de abril de 1986, o jornalista Aramis Millarch escreveu sobre o Encontro Mundial das Mulheres Cineastas, no Festival de Gramado. O nome traz a sensação de algo grande, mas o jornalista frisa em sua matéria ser um seminário bem mais modesto, organizado pelo Coletivo de Mulheres de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro.

O evento também contou com uma pequena, mas expressiva, mostra latino-americana de filmes de mulheres. Com presença de diretoras de países como Canadá, Argentina e Colômbia, a matéria ainda mostrava em número a participação das mulheres em filmes naquela época: nos últimos 5 anos, de 3.113 posições ocupadas por profissionais na produção de filmes, apenas 527 era de mulheres (17% do total).

De 1980 a 1985, apenas 11 filmes foram dirigidos por 9 mulheres.

E o quanto isso mudou pra 2016? Infelizmente não muito. Tanto no panorama brasileiro quanto internacional, a produção de filmes ainda é um espaço apertado para mulheres.

No Oscar deste ano, a questões da falta de diversidade e sexismo foi novamente levantadas. As mulheres que foram indicadas em outra categoria além de atuação, como figurino e direção – ou seja, produção dos longas – somaram apenas 22%. Vale lembrar que a estilista Jenny Beavan levou o Oscar pelo figurino de Mad Max.

Vestindo jaqueta de couro e calça, sem maquiagem ou penteado chamativos, a estilista subiu aos palcos para receber o prêmio com reações sérias – senão rudes – e silêncio dos aplausos de muitos homens ali presentes.

Jenny Beavan preferiu não optar pelo vestido por não gostar de usá-los e deixou o salto de lado por ter dores na coluna. E parece que essa atitude simples foi extremamente julgada.

Em fevereiro, um grupo de atrizes e diretoras criaram uma produtora de cinema feminino em Hollywood chamado We Do It Together ("Nós fazemos isso juntas"). Dentre elas estão Jessica Chanstain, Queen Latifah, e a codiretora de Cidade de Deus, a brasileira Kátia Lund.

Com o primeiro longa marcado para estreia em maio, no Festival de Cannes, a ONG tem o objetivo de produzir filmes visando a promoção de mulheres no cinema.

Quando medimos o problema em números, conseguimos ver melhor a disparidade de espaço entre mulheres e homens trabalhando em altos cargos na indústria de Hollywood.

Quando avaliamos o trabalho de escritoras, produtoras e diretoras, a diferença continua tão grande quanto:

É engraçado ver a presença mais forte das mulheres em festivais de cinema independentes - e lá elas ganham vários prêmios.

Nesse mês, a Revista CULT trouxe uma matéria muito interessante sobre a minoria de mulheres diretoras e atrizes em filmes, tanto no cinema clássico, quanto nos blockbusters atuais e no cinema nacional.

Ainda muito tradicional, Hollywood opta por protagonistas homens em filmes de ação, aventura. Quando o costume muda – tivemos mulheres em destaque nos filmes Mad Max e Star Wars – até mesmo boicotes contra as produções são planejados.

Parece mentira, até ficamos espantadas, mas é assim que se comporta o público da maior indústria de filmes do mundo.

Mulheres ainda são muito usadas em dramas ou romances, sempre em filmes com destaque para emoções, mas é interessante ver a lista feita na matéria com 9 cineastas mulheres que criaram mais de 15 filmes de grande repercussão. Citamos aqui algumas bem conhecidas: Nancy Meyers (Alguém tem que ceder), Sofia Coppola (Encontro e Desencontros) e Cris D’amato (S.O.S Mulheres ao mar).

Sendo assim, para exaltar as produções femininas no cinema brasileiro, trazemos 5 sugestões de filmes com diretoras brasileiras (sinopses do Adoro Cinema):

- Elena e Olmo e a Gaivota, de Petra Costa

Elena (2012)

Ao viajar para Nova York, Elena segue o sonho de se tornar atriz de cinema e deixa no Brasil uma infância vivida na clandestinidade, devido à ditadura militar implantada no país, e também a irmã mais nova, Petra, de apenas sete anos. Duas décadas depois, Petra, já atriz, embarca para Nova York atrás da irmã. Em sua busca Petra apenas tem algumas pistas, como cartas, diários e filmes caseiros. Ela acaba percorrendo os passos da irmã até encontrá-la em um lugar inesperado.

Olmo e a Gaivota (2015)

Olívia (Olivia Corsini) é uma atriz que está ensaiando a peça "A Gaivota", de Anton Tchekov, quando descobre que está grávida. Enquanto a produção avança, o bebê dentro dela cresce e um acidente a afasta da montagem, que tem seu companheiro como protagonista. De repouso em casa por semanas, ela lida com as bruscas mudanças em sua rotina, seu corpo e sua vida em geral.

- Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert

A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.

- Califórnia(2015), de Marina Person

Início dos anos 1980. Estela (Clara Gallo) é uma adolescente que vive os conflitos típicos da idade, de identidade, amizade e amor. Ela tem um ídolo, o tio Carlos (Caio Blat), jornalista musical que vive nos Estados Unidos. E o maior sonho da menina é visitá-lo na Califórnia, durante as férias. Os planos dela vão por água abaixo, no entanto, quando ela descobre que é ele quem está voltando para o Brasil, magro, debilitado por consequência de uma doença sobre a qual a medicina apenas começava a se debruçar.

- As Melhores Coisas do Mundo(2010), de Laís Bodanzky

Mano (Francisco Miguez) é um adolescente de 15 anos. Ele está aprendendo a tocar guitarra com Marcelo (Paulo Vilhena), pois deseja chamar a atenção de uma garota. Seus pais, Camila (Denise Fraga) e Horácio (Zé Carlos Machado), estão se separando, o que afeta tanto ele quanto seu irmão mais velho, Pedro (Fiuk). Sua melhor amiga e confidente é Carol (Gabriela Rocha), que está apaixonada pelo professor Artur (Caio Blat). Em meio a estas situações, Mano precisa lidar com os colegas de escola em momentos de diversão e também sérios, típicos da adolescência nos dias atuais.

Pra quem é de São Paulo e região, nossa dica se estende ao CineClub Mulheres Cineastras, que acontece na Reserva Cultural, Avenida Paulista, no dia 17 de abril. O evento acontece à partir das 9h30, com café da manhã francês, e exibição do filme As Garotas, da cineasta francesa Céline Sciamma, as 10h30.

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